Márcio Neto
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Equação de Navier-Stokes (Parte 1) - Derivadas Materiais
Bem-vindos a mais uma série de aulas, baseadas no conteúdo do nosso canal Bloom Consultoria. Nesta série, exploraremos as origens e aplicações das equações de Navier-Stokes, que são fundamentais para a modelagem de sistemas fluidos.
Introdução às Equações de Navier-Stokes
As equações de Navier-Stokes são, essencialmente, balanços diferenciais da quantidade de movimento. Em termos simples, essas equações asseguram que a segunda lei de Newton seja válida em cada ponto de um escoamento fluido. São especialmente úteis para modelar como as forças e pressões se distribuem em um fluido em movimento.
Aplicações das Equações de Navier-Stokes
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Golpe de Aríete: Fenômeno comum em sistemas hidráulicos, o golpe de aríete ocorre quando há uma mudança súbita no fluxo, como o desligamento de uma bomba ou o fechamento de uma válvula. Usando as equações de Navier-Stokes, podemos prever variações de pressão que podem danificar a tubulação.
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Propagação de Cheias em Rios: As equações ajudam a prever como uma cheia pode se propagar, auxiliando na construção de infraestruturas seguras, como casas e estradas próximas a rios, para evitar inundações.
Além disso, as equações de Navier-Stokes são a base para muitas simulações em fluidodinâmica computacional (CFD), que é amplamente usada na engenharia e na pesquisa científica.
Revisão de Conceitos Fundamentais
Para entender a origem das equações de Navier-Stokes, é importante revisarmos alguns conceitos de física e mecânica dos fluidos.
Quantidade de Movimento e Segunda Lei de Newton
Considere uma partícula com massa e velocidade representada por um vetor. A quantidade de movimento, ou momento linear, dessa partícula é dada por:
onde representa a quantidade de movimento.
A segunda lei de Newton estabelece que a força resultante que atua sobre essa partícula é a derivada da quantidade de movimento em relação ao tempo:
Se assumirmos que a massa da partícula permanece constante, podemos reformular essa equação para a forma mais conhecida:
Aqui, é a aceleração da partícula. Portanto, a expressão clássica da segunda lei de Newton é:
Campo de Velocidade e Derivadas Materiais
A segunda lei de Newton aplica-se a partículas individuais, mas em um escoamento fluido, lidamos com um grande número de partículas simultaneamente. Portanto, precisamos adaptar a lei para um campo contínuo.
Imagine um gráfico representando o campo de velocidade de um escoamento. Em cada ponto , a velocidade é dada pela tangente à curva naquele ponto, conforme indicado por um vetor de velocidade. Essa velocidade é uma função das coordenadas , e do tempo :
À medida que o tempo avança, uma partícula de fluido se desloca, mudando sua posição e, consequentemente, sua velocidade. Assim, o tempo influencia a velocidade de duas maneiras:
- Mudança de Posição: O movimento da partícula altera suas coordenadas e , afetando sua velocidade.
- Variação Temporal do Campo de Velocidade: O próprio campo de velocidades pode mudar ao longo do tempo.
Derivada Material
Para considerar esses efeitos, usamos a derivada total ou derivada material, que leva em conta a variação da velocidade em relação a todas as variáveis envolvidas:
Esta expressão pode ser escrita de forma mais compacta usando notação vetorial:
onde é o vetor velocidade e é o gradiente da velocidade.
Essa expressão nos fornece a taxa de variação da velocidade de uma partícula de fluido, considerando o escoamento como um todo. Em fluidodinâmica, essa aceleração é conhecida como derivada material, pois considera o movimento do "elemento material" do fluido.
Aplicando a Segunda Lei de Newton a Fluidos
Agora que sabemos como calcular a aceleração de cada partícula usando o campo de velocidades, vamos aplicar a segunda lei de Newton a um pequeno volume de fluido.
Considerando uma Partícula Fluida Cúbica
Suponha uma partícula fluida cúbica tridimensional muito pequena, com dimensões , e . Usando a segunda lei de Newton, substituímos a aceleração pela derivada material calculada:
onde é a densidade do fluido.
Próximos Passos
Agora precisamos determinar a força resultante que atua sobre essa partícula. Essa análise será o tema da próxima parte desta série.
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